vento - navalha lyrics
[verso 1: navalha]
eu vejo o incenso a dissipar*se é mist
aqui ninguém tem pena mas tu sente isto
nessa névoa em que eu penso eu visto
essa capa que tu querias que assumisse
índigo desde que os meus olhos viram discos
intriga*me ver*me tornar*me tão frio
nunca ígneo o meu elemento é wind
e só assim me divido entre as margens do rio
sinceramente sempre quis que te afastasses
mas quanto mais eu pedia mais eu sufocava
a escrita é lava e quando eu me queimei
percebi que o vulcão que idolatrava era um caderno sem páginas
escrevi pra ouro, só consegui prata
alquimia de quem não se contenta com nada
numa maca a ver que a máquina para
eu devia ter ouvido a bárbara, as minhas feridas não saram
sou eu que as coso mal, com linhas tão gastas
na esperança que se fundam com a pele como carpas que nadam
arranco as escamas vejo que as guelras são falsas
e mergulho em mim profundo sem ver o fundo da água
refém dessa espiral, eu nunca me vi tão negro
mas a minha noção de sombras sempre me deu um teto
foi lá que eu nasci, cresci e lutei
ali me quis, ali venci e amei
não aponto para platinas eu quero o meu nome numa esquina
numa placa com um título “pai, poeta, marido”
tudo por esta ordem esse é o meu objetivo
que a minha sombra reflita galáxias numa cortina
e que essa feche no dia em que o livro finde
é o fim da vida, david e golias
que o meu filho brinde e veja vinho
numa tela onde eu pintei a mãe com 20
é um convite à escrita, ao peito um dístico
é o que sinto, vivo, tornei*me místico
o púrpura rodeia*me em cada álbum que traço
e eu vejo traços do meu ídolo quando magico num quarto
falta de energia e a aura em baixo
eu vi a minha essência dissipar*se em mafra
daí surgiu a urgência pela arte
e eu perdido entre a escrita e o graff
agressividade era
bilhete de identidade n’era
ansiedade era mais que uma forma de estar
arrogância estava
e eu regateava
o preço de saber viver e me poder relacionar
achei que não podia fazer nada
ao ver a minha carne a ficar cada vez mais dura como mármore
no fundo eu dormi acordado
quando me visitaram, vi sombras levantarem*me e o meu corpo a pairar
não sei se era vento dessa presença mas senti um conforto
quando a alma se separa do corpo
é aí que se esquece a dor, quanto te julgas morto
são experiências que a ciência não esclarece com cor
[refrão: navalha]
os teus olhos esmeralda fizeram*me chorar safiras
sangrar rubis e escrever diamantes
é assim que eu me vejo ao espelho, numa luta constante a polir*me na lama
eu vi a faca na traqueia agitei os mares
arrastei*me na areia, virei vidro e cristal
acabei por matar as carpas, eram karma
e banhos de sal para mim são quartz
[verso 2: maze]
o vento sopra, sussurra nos meus ouvidos
recorda*me as rimas dos meus amigos
tento manter a luz, acendo uma vela
que a brisa nunca apaga, porque é uma estrela
olho para o cosmos onde rodam esferas
sentado no lótus de mil pétalas abertas
devia ouvir a mafalda, quando fala de amor
mas não se entende voz de fada no ruído da dor
com sanguessugas coladas ao cérebro
e no apex do coração um buraco negro
ergueram*me um pedestal, prefiro a gruta
perdi energia vital no ritual da labuta
e estou na luta da vida a manifestar a utopia
envolto na magia da minha geometria
sagrada, metatron no meio da merkaba
verdade em cada sílaba de cada palavra
sou só um homem simples a lutar com demónios
arrendatários que se julgam condóminos
exorcizo*os nestas linhas que da alma verto
cristalizo as imagens, atravesso o deserto
acham que me conhecem pelo meu verso
sem ver a cicatriz gravada no reverso?
da fortuna, na superação do quotidiano
nesse espaço*tempo onde sou mais um humano
[refrão: navalha]
os teus olhos esmeralda fizeram*me chorar safiras
sangrar rubis e escrever diamantes
é assim que eu me vejo ao espelho, numa luta constante a polir*me na lama
eu vi a faca na traqueia agitei os mares
arrastei*me na areia, virei vidro e cristal
acabei por matar as carpas, eram karma
e banhos de sal para mim são quartz
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