poetas no esgoto - pt. iil - coletivo 333 lyrics
[letra de “poetas no esgoto * pt. iil” com coletivo 333, rapadura, doist, rafa militão & victor xamã]
[intro: haru]
haru
[verso 1: haru]
roleta russa já é coletiva
digo que hoje é dia de votação
boca de urna se tornou uma cena de filme
segundo turno é zé pequeno no pé ou na mão
não é presságio, mas vejo o futuro
vejo o futuro, não é premonição
se eles soubessem de tanta track que tá na bala
com certeza o teto deles ‘taria no chão, hey
rv mandou um beat cabuloso
tô esfolando esse machista com estupro culposo
comédia sem vacilação a rua cobra
sabe, se cair na tranca, pra eles vai ser bem doloroso
eu já falei e falo de novo
esses bandido engravatado roubando meu ouro
avisa lá que a revolta guarani tá mais nervosa
larguei a flecha, vou de ak trovão, tupã cheio de ódio tá mais nervoso
tô pra lutar, tomar aquilo que é meu
ouro, terras, meu povo nunca te deu
o índio chorou, o homem nunca vai chorar, amazônia eles querem queimar
nessa mata cinza bem*te*vi voar, yah
tô pra lutar, tomar aquilo que é meu
ouro, terras, meu povo nunca te deu
o índio chorou, o homem nunca vai chorar, amazônia eles querem queimar
nessa mata cinza bem*te*vi voar, yah
[interlúdio: rafa militão]
rafa militão
o norte é forte, e aí?
[verso 2: rafa militão]
sou uma mulher preta do amazonas
cansada de ser ignorada
no sudeste ‘cês nos matam a ferro e fogo
aqui no norte é com a existência ainda negada (olha nós)
tem muita gente preta por aqui, porra
só na minha casa a sala é lotada (só preto)
não aceitamos ser massa de man0bra
nem maltratados pelos teus heróis de farda (porcos)
‘cês militando na internet, eu militante até no nome
quer ser cria de favela sem silva no sobrenome
feminista de condomínio
quer pagar de empoderada com a grana do pai
eu já vi que dá em nada
tuas ações sociais é só por mídia e pelo hype
nunca fumou sedanapo, só na blunt ou no pipe
sigo sem falso aliado, longe de disse*me*disse
percebi tua máscara bem antes do covid
esses caras choram, sadboys, garotos tristes
rafa é a tua ref’, te peço que não me imite
depois vai falar que é a braba lá na rede
não passa de meme, é verdade esse bilhete
mas se incomoda quando eu tô contando meus os peixe
pra chamar atenção se pinta de amarelo e verde (minion)
cedi minha coroa, agora corto as cabeça
eu tô de volta no meu trono e vocês me obedeçam
[verso 3: victor xamã]
forasteiro, trago notícias
o norte invadiu o ouvido deles, essa hora é perfeita
arte de verdade fora dessa galeria suspeita
imagina o capitão decapitado, um quadro perfeito
manaus virou cena de filme
políticos fechados com o crime
a sobrecarga nos tornou mais leves
obras consistentes são raízes que não quebram e nem trincam
o que do norte esses arrombados eles mais querem, bro?
skunk e neve, no? não te vendo drogas, primo
eu te trago um rap bom, flow tim v. xamã
essa joia rara não é adereço, é talismã
pega fogo amazônia, pant*n*l e restinga
o mundo capota, não gira
sangue nessa nota de duzentos respinga
a cidade pra polícia vira estande de tiro
[verso 4: koren]
às vezes acordo sem fé, afim de arrumar uma treta
tipo teu pastor racista que nunca reclama de vim nota preta
não adianta ter caligrafia e na hora da letra ser igual a todo mundo
agora a briga fica feia, capaz de tocar um linkin park de fundo
pode chamar teu papai pra pagar a fiança quando for em cana
acha que eu não lembro, te vi desfilando na rua com blusa do bozo
teu tratamento difere porque tu é branco ou tem muita grana? (hein?)
tu e o teu bonde é o tipo de gente que crê em estupro culposo
eles nunca amaram o povo (não), só querem viver de mesada (ahn)
na tv ‘tão brigando, depois se abraçando, toda confusão é um mero capricho
tô vendo tu prometer voto pro cara que come um pastel na quebrada (aham)
olha que coincidência, ambos jogaram isso no lixo
quem tem grana, manda o mundo que é lei
não pseudo rappers que querem ensinar o que eu já sei
e de repente se me ver com o pé atrás
é só pra te mostrar todos os passos que já dei
se trabalha, tu conquista (yeah)
único método conhecido pelo povo milionário
a geração internet diz que não
arraste para cima pra ser feito de otário
[verso 5: doist]
e ela bate com a bunda na cara do preto
sabe que eu gosto, sabe que eu me perco
que nos é favela raiz tipo eto
naipe de artista, pique jogador
tá no pente e se bate de frente, rj, sol quente
bala perdida caçando inocente
corpo ferido sem pai e mãe crente
esse é o fim que eles dão pra minha gente
hoje os cara me manda uns kit
as patreca rebola agarrando o cordão
quer colar com os cria em dia de baile
pra te abandonar em dia de operação
tava caçando uns racista escroto
ligaram pra mim lá no fundo do esgoto
pra amarrar e picotar o seu corpo
tirando a sua língua pelo seu pescoço
pelos acesso do beco da mina
tipo um soldado fortemente armado
abraçando os caído e fechando com o certo
desde novinho foram as regras do bairro
fala que é cria, pra nós não é nada
peça distração e tu corre do mapa
me chamam doist por todas as quebrada
e pelos beco de doutor granada
fuzil e metralha no pique do al*qaeda
se os verme brotar, nós faz chuva de bala
parede escuta e janela tem olhos
só que a minha peça tá sempre no óleo
falo com deus que cuide dos meus passo
eu tô sempre trajado, eu tô sempre invejado
cara de bandida e mordendo os lábio
pede sem capa que eu abraço teu papo
e ela joga a nota na cara do preto
sabe que eu faço, sabe que eu mereço
me chama de amor e me dá duas facada
e depois vem dizer que eu só paguei o preço
quer que a mãe dela me chame de genro
pra nós ter um filho e um dog pequeno
postar lá no insta que vive feliz na mentira
e viver uma vida mais ou menos
fala que tá junto no problema e abandona
conta que é rato, mas não conheceu o esgoto
mente que é cria, mas pra nós tu é criado
do tipo acostumado a roubar o quintal dos outro
entra no caminho, teu roteiro tá montado
sem final feliz porque essa porra não é novela
quer que eu te respondo por que eu sou favela cria?
é que a minha responsa é pelos cria da favela
[verso 6: dacota]
imagina uma cidade sem luz, sem energia
sangue pra transfusão e criança pra amamentar
idoso por aparelho vive, isso a globo não mostra
bozo esqueceu do amapá
antigamente rezava pra não chover
enquanto no nordeste rezam pra chuva cair
é que aqui às vezes inunda o igarapé
frusta as família e num tem pra onde fugir
eles amam a favela, mas não vive nela
dois tipo de mc em toda capital
os que vivem hip*hop em prol da cultura crescer
e os que mama da cultura só pra ganhar edital
chupa ovo de político por din’, que triste
graffiti? vandalismo ou crime
crenças ou religiões são algo do mal
e ainda quer falar que racismo não existe
político safado facilita a droga pra chegar no gueto
quando chega no gueto, apreendem pra vender mais caro
aplicam a milícia pra pegar o arrego
insiste em falar que é humor negro
mas tipo de piada só vem de cara branco
preto correndo é culpado, parado é suspeito
fetiche de polícia é ver povo preto preso
nunca deram moral pra mulher de pele preta
a não ser pra expor ela e chamar de globeleza
fala que é enxame nosso, que é vitimismo
imagina a cada vinte e três minuto
fosse um branco pra gaveta
índio é baleado, índia é estuprada
‘tão queimando a flora, ‘tão vendendo a fauna
estado passa fome, tv passa nada
presidente em rede nacional: “fome é piada”
vim pra roubar a cena tipo o assalto em criciúma
enquanto faço o esquema, ‘cês tão vendo novela
mandei parar o beat pra ‘cês ouvir acapella
que nem reza dá jeito nas tragédia da favela (porra!)
[verso 7: w mc]
e bate forte o tambor onde a veia pulsa
onde o meu norte encontrou nova direção
sou jogador de quebrada, canela russa
a cada nova jogada, uma decisão
e bate forte o tambor onde a veia pulsa
onde o meu norte tomou nova direção
sou jogador de quebrada, canela russa
cada jogada da vida é uma decisão
da arte à parte do encarte que em marte fará sucesso
no brasil quem manda é a ordem causando todo regresso
das luzes do hip*hop, eu vi cruzes no rip rap
sem céus buscamo’ na terra nossas válvulas de escape
ô, pai nosso que estás no céu
é que o da terra foi embora
perito em comprar cigarro, amigo
e ele ainda não voltou até agora
e bate forte o tambor, na urna batem carteira
sem treinamento me assaltam de segunda a s*xta*cheira
vidas negras importam e não só quando te afeta
‘cês tá igual a dilma, estabelecendo as meta
à noite eu caminho na lua
que deus ilumine meus passos
tem mary, tem reck, tem check
e as fumaças do meu maço
ó, seu moço, e quando deus te desenhou
ele nem imaginava tu roubar respirador
entre outras mil, é tu brasil, ó pátria amada
onde oitenta mil sem vestígio se esconde igual facada
ô, pai, aparta de mim esse cálice
ou cale*se antes que o parta
nem mesmo o próprio da vinci
escreveria uma obra tão farta
[verso 8: benevides]
a vida é um freestyle, olha como eu entro no beat
dois pé na porta igual a swat invadindo a suíte
só não explana meu corre, senão te jogo na mix
se me deve, então me paga ou me transfere no pix, man
passei na praça que a rhyvia foi agredida
policial veste a farda e pensa que é herói da marvel
não faria isso em condomínio chique
isso nos mostra que a pobreza é inafiançável
não vou gritar que a favela venceu
se no meio da travessia, alguns dos meus irmãos se afoga
quantos emicidas nascem na sua quebrada
e ao invés de rima, ‘tão vendendo droga?
quantos 2pac vão morrer antes dos quinze
com bala perdida atirada pela polícia?
quantos deles vira estampa de camisa?
e quantos deles não vão nem virar notícia?
eu tô cansado da minha voz não ser ouvida
se eu fosse famoso, ‘cês iam hypar esse vídeo
ahn, mas pelo visto só popularizam treta
minha mão já tá coçando para o novo sulicídio (fudeu)
[verso 9: rapadura]
hey, rimas com aroma da amazônia cheiram mais que a tal colônia
a linha é cara, é maradona e comem pó na maratona
árido pro arizona, deixo o mundo úmido, amazonas
mas a zona é franca, é sem aliança com quem ama zonas
senhor dos anéis, eu frodo, rap num é hobbit
os pego no dopping eu chapo em estrofes
rimam drogas, não ‘tão na forbes
plataformas, baixam obras, fôrmas, formas em spots
rimo sem suportes em motes, mais elevado que a otis
sustenta pop, o topo é feito pra quem tem raiz forte
trago uma floresta e os tops? quatro folhas? não ‘tão com sorte
num home studio, sem holofote, independência ou morte
o eixo se perdeu do hip*hop e agora implora o norte
índios no mic é muito mais que cypher, é quem defende a própria oca
eles querem surfar no hype e se afogam na pororoca
cuspo um rio negro em white, só limões em fotocópias
ghostwriter, corto seus braços, faço meu próprio oscar
dou mais sangue que o tarantino, dê o prêmio ao nativo
vira*lata desafina e ganha um grammy latino?
meu retorno será glorioso, mais que al pacino
o cabra é caprichoso e o verso do ano todo é garantido
a diss é áspera em diáspora, a letra é um teorema
pra pitágoras e bhaskaras, tomo a carona
é o rei das sátiras, arranco máscaras, rappers de pandemia
até o troféu é fit e eu sou muito fat pra academia, porra (bate forte o tambor)
hey, eu boto pra f com esses memes, nordeste sempre zera o game
esse rap vai explodir o fm e o sudeste vai ouvir só am
reciclam o lixo da internet, vomito bem na cara do nicho
só grudam com esse refrão chiclete e o meu verso rasga igual carrapicho
sou mato e por isso não morro porque pra enterrar nossa história, tem uma pá
não apagam a luz que vem do povo, não vão nos parar, somos o amapá
vendem o corpo só pra ‘tarem num globo e o caboclo toma a alma dos reis
puxo para baixo esses ratos do topo
pois cada poeta no esgoto equivale por três
isso é poetas no esgoto, parte três, três, três (bate forte o tambor)
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