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delírio alcóolico - alfredo del penho lyrics

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oh lua cheia, cheia de graça
esse teu bojo está repleto de cachaça
apaga a luz sem ninguém ver
e abre-te ao meio o teu recheio
estou danado por beber
tu não és mais que um garrafão
que aqui me prende em sacrossanta devoção
oh vagabunda lá do espaço
dá-me o braço e p-sso a p-sso
vamos tomar um formidável bom pifão

fui o primeiro astronomeiro
que descobriu quem sabe és irmã da ópa
e que vem sempre ao butequim
do joaquim, o português
que até dizia
“o vi tontim”
tú és oh roda, redonda e branca
perambulando pelo azul do firmamento
neste momento és um acento
és uma anca de mulher
numa concavidade ambígua de colher

de hoje pra trás, não bebo mais
eis a promessa que hora faço com fervor
eu só não bebo a aguarrás
mas tu, oh lua, bebes chumbo derretido e pedes mais
vivo na rua e tu no céu
mas nos irmana o mesmo vício, o mesmo amor
por isso para que mentir
sou como tu de um crime réu
se acaso é crime se beber até cair

lua pau d’água a minha mágoa
é não morar no alambique a vida inteira
tendo-te a ti por companheira
na sempre eterna bebedeira
e na ressaca habitual
nesta sarjeta cheia de lama
onde me encontro vejo a coisa muito preta
pois o tal de guarda noturno
é um malvado sem igual
que vem soturno escangalhar minha bac-n-l

oh lua adeus, deixa-me andar
vou procurar algum lugar pra vomitar
tenho a na boca a impressão
e a sensação do gosto mal
de um cabo de chapéu de sol
fujo de ti, pois és capaz
de vomitar por sobre mim o parati
me encontrarás no botequim
fiel ao que já prometi
de que não bebo nunca mais
de hoje pra trás

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