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maria gabriela llansol por joão barrento - aldina duarte lyrics

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eu nasci em 1931, no decurso da leitura silenciosa de um poema. só havia tecidos espalhados pelo chão da casa, as crenças ingénuas de minha mãe. estavam igualmente presentes as páginas que os leitores haveriam de tocar (como a uma pauta de música), apenas com o instrumento da sua voz. eu fui profundamente desejada. profundamente mal desejada e com amor. — a voz está sozinha — disse minha mãe, ainda eu estava no seu ventre, a ler*me poesia. — não por muito tempo* responderam àquela que me iniciava na língua. e eu nasci na sequência de um ritmo. eu nasci para acompanhar a voz, fazê*la percorrer um caminho. de um lado a outro do percurso, não sei o que existe, o caminho caminha, eu deslumbro*me quando o tempo se suspende, e me permite parar a contemplar o espaço sem tempo. se vim para acompanhar a voz, irei procurá*la em qualquer lugar que fale, montanha, campo raso, praça de cidade, prega do céu, conhecer o drama*poesia desta arte. sentir como bate, num latido, na minha mão fechada. como ao entardecer, solta, tantas vezes, um grito súbito: – poema, que me vens acompanhar, por que me abandonaste? – como me pede que não oiça, nem veja, mas me deixe absorver, me deixe evoluir para pobre e me torne, a seu lado, uma espécie de poema sem*eu. em silêncio e cega, deixo que me dispa da claridade penetrante, da claridade nova, da claridade sem falha, da claridade densa, da claridade pensada, me torne um fragmento completo e sem resto para que passem a clorofila e a sombra da árvore

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